Caro(a) leitor(a), este é um blog reincidente! Seu
começo remete há cinco anos, em 2009, quando decidi criar um espaço para
publicar meus escritos. Eram produções aleatórias e sem muita importância, o
que foi decisivo para a primeira desistência. Algum tempo depois, veio a minha
mente a ideia de postar no blog as citações que eu costumava destacar nos
livros. Dessa forma, surgiu um blog com um novo perfil. Todavia, novamente, as
simples transcrições me cansaram, apesar de as leituras não cessarem. Quase um
ano depois, estou retornando, mas agora com uma página envolta em nova
roupagem. Pretendo utilizar esse espaço para tratar de literatura, arte e
história, curiosidades ou praticidades referentes a esses temas. Enfim, uma
página cultural!
E, para começar, acho que devo uma explicação quanto ao
título. Embora eu tenha feito certo esforço em busca de um nome interessante e
criativo, o título acabou vindo até mim por meio de um livro. Tenho a mania de
percorrer todas as linhas de uma obra, desde a ficha catalográfica até os
créditos de impressão. E, ao iniciar a leitura de uma edição de bolso de
“Filosofia medieval” de Alfredo Storck¹, encontrei, praticamente escondida, a
epígrafe que dizia
Lecturis salutem
(Palavras usualmente empregadas
por copistas no início de seu trabalho).
Na mesma hora, tomei a expressão como minha fazendo dela o
cabeçalho do blog. E, apesar de tantos recomeços, ainda tenho um certo carinho
por ela, o que me faz mantê-la!
Lecturis salutem é uma expressão latina que significa
“saudações ao leitor”. Como já dito, era encontrada logo no início dos trabalhos
dos copistas medievais. É sabido que antes da disseminação das tipografias, a
partir do século XV, as obras eram escritas manualmente por monges que se
dedicavam unicamente a essa função. De acordo com o historiador Jacques Verger², especialista em medievalismo, os bons copistas (“scriptorias”) eram raros e
trabalhavam lentamente, “por volta de duas folhas e meia por dia, em média”.
Portanto, em um ano, um copista tinha condições de produzir mil folhas
manuscritas, sem contar as iluminuras, verdadeiras obras de arte. A produção de
uma obra durante a Idade Média era, portanto, penosa e onerosa.
Acredito eu, que a partir desse pressuposto, estabeleceu-se
uma formalidade entre o produtor e o leitor através da expressão Lecturis
salutem. Ela poderia definir uma certa proximidade e, por que não, uma
aclamação em respeito ao portador do livro que, afinal, não era de fácil
acessibilidade, já que o leitor deveria ser abastado e, ao mesmo tempo,
letrado. Não obstante, o copista também era um intelectual e um artista, o qual
tinha grande valor na escala social. Portanto, as saudações ao leitor
apresentavam-se como um detalhe sutil, mas que não deixavam de trazer uma forte
carga de simbolismos.
Apesar de o Brasil ser um país que nasce praticamente junto
com a Era Moderna, possuímos um grande acervo de livros medievais. Além dos
arquivos particulares, as bibliotecas públicas guardam preciosos tesouros. A
principal delas é a Fundação Biblioteca Nacional localizada na cidade do Rio de
Janeiro, que teve seu início com a vinda da Família Real portuguesa para o
Brasil, em 1808, e que trouxe consigo o acervo do reino composto por mais de
sessenta mil peças. Atualmente, a BN passa por um rigoroso trabalho de
digitalização de seu acervo, o qual é disposto online para os interessados e
curiosos. Para acesso aos livros medievais ou qualquer outra obra, é só clicar
neste link: http://bndigital.bn.br/ e
ficar por dentro das novidades sobre o passado!
Página do livro "Incip[it] epe'a sci iheronimi ad paulinnu[m] p[re]sbiteru[m] : de omibs divine historie libris" de 1462. Acervo: Fundação Biblioteca Nacional (Brasil). Reparar no carimbo da "Real Bibliotheca".
[1] STORCK, Alfredo Carlos. Filosofia medieval. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
[2] VERGER, Jacques. Homens e saber da Idade Média. Bauru: Edusc, 1999.
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