quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Exposição: O Rio de Machado

Estar na cidade do Rio de Janeiro é um privilégio. Além das belas paisagens, da boemia dos cariocas, do clima agradável, a cidade é repleta de histórias. Uma ruela, uma escadaria, um prédio ou até mesmo o recorte do horizonte: tudo está embrenhado pelo testemunho do passado. Cada canto da cidade guarda vestígios das camadas do tempo e poder decifrá-los faz parte daqueles prazeres rotineiros de quem percorre as ruas do Rio. Na verdade, essa é a graça: deixar um pouco os pontos turísticos de lado e embrenhar-se no seu emaranhado de ruas, prédios e pessoas do cotidiano da cidade. 

Por ser um local de referência no mapa brasileiro desde o século XVI, tendo sido, inclusive, capital por 197 anos (de 1763 a 1960), o Rio de Janeiro foi palco dos principais fatos da história do país. Temos maior proximidade com tais acontecimentos através de livros de história que trabalham com propriedade fontes primárias de períodos específicos. Mas é possível se familiarizar com o passado do Rio por meio de referências mais sutis e agradáveis, como os romances da literatura nacional. 

E quando pensamos em literatura e Rio de Janeiro, não há como não citar o nome de Machado de Assis. Além de ser o ícone dos romancistas brasileiros, Machado de Assis é referência em testemunhos do Rio do século XIX e início do XX. Ao narrar as histórias de seus personagens, Machado de Assis também deixa conhecer a paisagem, os costumes, o modo de vida do Rio de Janeiro de sua época. Por meio de seus contos e romances somos transportados a um Rio que não existe mais, mas que, ao mesmo tempo, insiste em se manter presente! É impossível ler as grandes obras de Machado e não criar correspondência com os locais mencionados.

Poder conhecer in loco os espaços nos quais se travaram os grandes acontecimentos do passado é, sem dúvida, uma oportunidade emocionante. E foi essa a experiência que pude desfrutar através da exposição O Rio de Machado. Com idealização e curadoria da Artéria (Daniela Name e Gabriela Dias), a exposição tem por objetivo a divulgação e promoção do acesso à obra de Machado de Assis. Além da ocupação e de seminários no Museu de Arte do Rio (MAR), a exposição é composta também por passeios.

Imagem de dilvugação da exposição.

Ocupação nos pilotis do MAR.

Os passeios literários consistem em visitas guiadas pelos principais pontos do Rio de Janeiro citados nas obras de Machado de Assis. Eles ocorrem todo sábado das 11 às 14 horas e o último acontece no próximo sábado, dia 01 de novembro. Eu participei do passeio de sábado passado, dia 25 de outubro. Nossa concentração se deu nos pilotis do MAR onde foram formados dois grupos compostos, mais ou menos, por 30 pessoas. Nossa caminhada seria orientada pela guia Beatriz Tognarelli ou, simplesmente, Bia. Após as devidas apresentações, fomos conduzidos para o lado de fora do museu, onde nos foi apresentado o Morro da Conceição e a Zona Portuária do Rio e suas manifestações nos romances de Machado, principalmente em Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba.

Narrativa da nossa guia Bia, muito simpática e com tudo na ponta da língua! Próximo do Morro da Conceição.

Logo em seguida, tomamos a direção da Av. Presidente Vargas indo até a igreja da Candelária. Depois das devidas explicações, seguimos pela Rua 1º de Março fazendo uma rápida parada na Rua Teófilo Otoni, conhecida como Rua das Violas no tempo de Machado, onde ficava o escritório de advocacia do tio Cosme, personagem de Dom Casmurro. Dali, nos dirigimos até a Rua do Ouvidor, um dos pontos mais importantes do Rio de Janeiro oitocentista e citado tantas vezes por Machado (Ressurreição, Iaiá Garcia, Memórias Póstumas, Dom Casmurro, Esaú e Jacó). Depois, seguimos para a Rua Gonçalves Dias para desfrutar um cafezinho na Confeitaria Colombo, importante comércio existente desde 1894 e muito frequentado por Machado.

Confeitaria Colombo. 1. Detalhes da fachada. 2. Interior. 3. Doces. 4. Ladrilhos.

Da Confeitaria, seguimos para a Praça Tiradentes, lugar que se mistura com a vida e a obra de Machado já que ali ficava a tipografia na qual trabalhou ainda jovem. Em seguida, tomamos a Rua do Lavradio até chegarmos ao Largo da Lapa. Em frente aos aquedutos, relembramos os romances que se passam nos arredores, em algum lugar de Santa Tereza, na Rua de Matacavalos (atual Riachuelo), ou na Glória (Iaiá Garcia, Quincas Borba, Dom Casmurro). Logo, chegamos no Passeio Público, palco de importantes acontecimentos em Iaiá Garcia e Dom Camurro. Por fim, nos dirigimos a Cinelândia, onde finalizamos nosso passeio literário.

O passeio, sem dúvidas, foi uma atividade muito agradável. Apesar da longa distância que caminhamos, nem deu pra cansar! Os detalhes dos romances de Machado escondidos nas simetrias do Rio nos transportaram para uma outra dimensão, onde nos esquecemos do tempo e do espaço: quando nos demos conta o passeio já havia terminado. É claro, que há muito mais do Rio na obra de Machado mas, um passeio que abarcasse todos os locais em um único dia seria impossível. Dessa forma, os organizadores da exposição ainda tiveram o cuidado de elaborar um aplicativo compatível para Android e Apple que pode ser baixado gratuitamente. 

Imagens do aplicativo. 1. Abertura. 2. Página principal do romance "Memórias Póstumas".

Nesse aplicativo estão reunidas informações sobre os nove romances de Machado de Assis. Ao clicar sobre um deles, são dispostos os cenários cariocas citados no romance em questão. Além do trecho da obra aludindo ao local, ainda há um mapa para localização, fotografias da época e informações históricas. Além disso, é possível baixar o e-book de cada romance! Com o aplicativo, um amante de Machado de Assis vai poder ter informações extras sobre os locais citados em suas obras e, ainda, poder montar o seu próprio roteiro de passeio. Sem falar que, mesmo com o fim da exposição, vamos poder usufruir dela com um simples toque na tela do celular. Uma ideia simplesmente fantástica!

Depois disso tudo, não há como não se apaixonar mais ainda por Machado e, também, pelo Rio.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Um dia para cultivar histórias e jardins

Sábado passado, dia 18 de outubro, Nova Friburgo recebeu a visita de Jean-Pierre Bériac, professor da Escola de Arquitetura e Paisagismo de Bordeaux. Pesquisador da história dos jardins, da paisagem e da arquitetura neoclássica, Bériac é também especialista em estudos sobre o paisagista Auguste Glaziou. Sendo Nova Friburgo depositária de duas das principais obras de Glaziou no Brasil, o professor empreendeu uma terceira visita à cidade, dessa vez com o intuito de expandir seu conhecimento sobre o assunto.

Sua visita foi coordenada pela Dra. Ana Pessoa, Diretora do Centro de Memória e Informação da Fundação Casa de Rui Barbosa. Ela propôs uma visita aos jardins do Parque São Clemente. Originalmente denominado Chácara do Chalet, o Parque São Clemente é um dos lugares mais conhecidos e visitados do município de Nova Friburgo. Foi criado na década de 1860 pelo Barão de Nova Friburgo, Antonio Clemente Pinto, adquirido por Eduardo Guinle já no século XX (1912) e tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1957, quando foi instituído como clube privado. Além dos jardins românticos projetados por Glaziou, considerados pelo especialista Carlos Fernando Delphim como um dos jardins românticos mais belos e mais bem preservados do país, a propriedade conta com a casa-sede, em estilo chalé, projetada pelo arquiteto alemão Gustave Waehneldt e preserva estuques e pinturas originais de grande riqueza de detalhes.


Lago central do Parque São Clemente/ Nova Friburgo Country Clube. Foto: Regina Lo Bianco.

O objetivo dessa nova visita do professor Bériac ao Parque São Clemente era lhe proporcionar conhecer o Chalet e também a parte dos jardins que se encontram em propriedade dos descendentes de César Guinle, os quais ele não teve oportunidade de visitar anteriormente. Sendo assim, nosso dia dedicado a cultivar histórias e jardins, começou às 10 horas da manhã. Fomos recebidos por um dos filhos de César Guinle, Maria Helena Flores Guinle. Muito gentil e prestativa, Maria Helena já havia separado algumas fotografias e documentos para mostrar ao professor. Sendo docente de francês e também tendo morado muitos anos na França, a língua não foi uma barreira para a anfitriã e ficamos mais de uma hora entretidos em conversas e viagens ao passado.

Em seguida, fomos fazer um tour pelo jardim da propriedade. O dia estava propício para a caminhada, com um belo sol a iluminar a paisagem. Durante o passeio fomos desvendando as belezas de um jardim privado e bem cuidado que, apesar da construção intencional, se apresenta como natureza selvagem. De acordo com Maria Helena, quando a propriedade foi comprada por seu avó Eduardo Guinle dos descendentes do Barão de Nova Friburgo, foi realizada uma grande recuperação de toda a área, incluindo os jardins de Glaziou e o terreno onde seria construída a casa da família. Para tanto, foram contratados profissionais especializados, dentre eles o artesão italiano Paulete, responsável pelas alamedas. Amante dos animais, Paulete organizou um grande jardim zoológico no terreno. No local onde hoje está a casa da família foi construído um enorme cercado para a disposição dos animais. Segundo depoimento de César Guinle [1], lá havia aves raras vindas da Amazônia e do exterior, como os "grous" africanos, marrecos, emas e antílopes da África os quais davam saltos imensos que extasiavam a todos!

Tour pelo jardim de propriedade dos Guinle.

Após o passeio pelo jardim, nos dirigimos ao Nova Friburgo Country Clube para a visitação do Chalet, a casa-sede da propriedade. Lá, fomos recebidos pelo Diretor de Patrimônio, Roosevelt Concy, o qual, além das boas vindas, fez uma breve explanação sobre a situação atual da casa que passa por obras emergencias de sua estrutura. Apesar daquelas confusões de qualquer obra (andaimes, escoramentos, móveis embalados), o professor Bériac se mostrou encantado diante da beleza dos estuques e pinturas da construção.
Jean-Pierre e Roosevelt no interior do Chalet.

Acredito que a visita do professor Bériac foi um importante evento para nós pesquisadores de jardins históricos. Geralmente, por estarmos diariamente enfrentando os problemas referentes à conservação de patrimônios culturais, nos enfastiamos diante das dificuldades de preservação de tais monumentos e, quando recebemos um visitante alheio as nossas questões, somos revigorados pelas manifestações de prazer e regozijo que ele demonstra diante da riqueza que temos. Quem sabe também, através do professor, teremos a oportunidade de estreitar laços com instituições de pesquisa francesas, podendo, no futuro, executarmos projetos em conjunto, o que para o Nova Friburgo Country Clube, proprietário dos jardins de Glaziou, seria uma oportunidade de exportar sua imagem, principalmente ao que concerne à preservação de jardins históricos. Sem dúvidas, esse encontro representa  o início de belos projetos vindouros!

Registro da visita ao Chalet.

[1] MEMORIA ORAL DEPOIMENTOS-ENTREVISTAS VOLUME I / CESAR GUINLE / PREFEITURA DE NOVA FRIBURGO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA / Maria Suzel Soares da Cunha (Diretora do Departamento de Cultura) / JULHO 1985. Agradeço à Maria Helena pelas informações e fonte aqui citadas.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Viagem a Belo Horizonte

Quinta-feira passada, dia 09 de outubro, viajei rumo a Belo Horizonte para participar do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia (14snhct.sbhc.org.br). O evento, organizado pela Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC), teve duração de quatro dias e contou com conferências, mesas-redondas, minicursos e simpósios temáticos. De acordo com o Caderno de Resumos do seminário, o SNHCT deste ano contou com mais de 900 participantes, um recorde de participação que indica o crescimento da comunidade de pesquisadores da história das ciências no Brasil.


Minha apresentação foi encaixada no simpósio sobre desenvolvimento econômico, ciência e tecnologia, coordenado pelo professor Luiz Carlos Soares, da UFF. Tratei sobre a tecnologia empregada na construção da Estrada de Ferro de Cantagallo, um dos temas abordados na minha dissertação de mestrado.

Aproveitei a oportunidade de estar pela primeira vez na capital mineira para passear e conhecer alguns pontos turísticos do local. Como também pesquiso jardins históricos, não poderia deixar de visitar os pincipais parques da cidade. 

No sábado pela manhã, visitei a Praça da Liberdade localizada na região central. Criada ainda na época da fundação da capital (1895-97), ela conta com um traçado típico dos jardins clássicos: linhas e alamedas retas, espelhos d'água, repuxos, corbeilles (canteiros exclusivamente de flores), além da arte topiária (poda de árvores e arbustos). Além de um belo e agradável local de socialibilidade, a praça é reconhecida como um dos principais circuitos culturais do Brasil. Seu entorno reúne vários museus e galerias de arte, como o CCBB, a Casa Fiat da Cultura, o Espaço do Conhecimento UFMG, o Memorial Minas Gerais - VALE, o Museu das Minas e do Metal e o Palácio da Liberdade.


Em seguida, fui passear no Parque Municipal, distante cerca de 1 km da Praça da Liberdade. Esse parque é um belo exemplo dos jardins românticos do século XIX. Projetado pelo paisagista francês Paul Villon, aluno do famoso Auguste Glaziou, foi inaugurado em 1897. Em seus 180 mil metros quadrados, há muitos lagos cortados por alamedas sinuosas ladeadas por todo tipo de árvores e plantas. Há ainda muitas pontes imitando troncos de árvores, pavilhões, ruínas e recantos pitorescos, tão comuns no ideal romântico. Numa parte do jardim, havia também diversos brinquedos de parques de diversões e acabei indo na roda gigante pra conferir a paisagem do parque lá de cima. Foi uma experiência muito divertida! Além disso, também remei num dos lagos. Apesar de nunca ter feito isso antes, até que me saí bem e pude ver o parque de um outro ângulo.


Após o almoço, fui conferir as atrações da Pampulha. Lá estão localizadas as principais obras do modernismo brasileiro. Desci do ônibus no ponto próximo à Igreja de São Francisco de Assis. Com projeto de Oscar Niemeyer de 1940, também conta com um belíssimo afresco de Cândido Portinari. A visitação ao interior é cobrada e custa R$ 2,00 a entrada inteira. Lá dentro não é permitido fotografias devido aos direitos autorais. Como é possível ver o interior por uma grande parede de vidro, muitas pessoas não visitam a igreja. Eu optei por visitar e, afirmo, que foi uma experiência belíssima. Lá dentro, sem nenhuma interferência do exterior, eu pude ver os detalhes das tesselas, os quadros da via crucis, a sutileza das curvas da abóbada. Diante do afresco de Portinari é impossível não se emocionar! Do lado de fora, a lagoa nos oferece uma bela vista e a ótima companhia das fofíssimas capivaras!


Em seguida, resolvi fazer uma visita guiada ao estádio de futebol do Mineirão. Percorri a distância de mais ou menos 1 km para saber que as visitas já haviam acabado naquele dia! Fiquei um pouco indignada e decepcionada por ter caminhado embaixo daquele sol de uma hora da tarde e dar com a cara na porta. Então decidi dar meia volta e ir até a Casa do Baile, mais 2 km pela frente... Trilhei as bordas da lagoa, o que foi bem agradável. Mas, confesso, que no meio do caminho já estava desesperada por nunca avistar a casa! Quando lá cheguei, meus pés e minhas pernas estavam doloridos. Mas logo me esqueci desse detalhe diante da beleza da construção. A Casa do Baile, também projeto de Oscar Niemeyer, conta com um jardim do paisagista Burle Marx que se comunica perfeitamente com a edificação e com a marquise em forma livre. Construída para ser um restaurante dançante, hoje a casa abriga o Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e Design.


Não aguentando mais continuar o percurso a pé, resolvi chamar um taxi (não há ônibus!) e ir até o Museu de Arte da Pampulha. Infelizmente, nenhum dos taxis que passavam estavam disponíveis. Dessa forma, eu achei melhor fazer o retorno e ir até a Casa Kubitschek. Consegui pegar um taxi e, em poucos minutos, eu estava diante da residência de campo de JK. À primeira vista, a casa já é estonteante. A arquitetura modernista também de Oscar Niemeyer (1943), com telhado borboleta e platibanda com detalhes em madeira, localizada aos fundos de um belo jardim de Burle Marx, forma uma paisagem elegante e aconchegante. No seu interior, estão o mobiliário original da casa, testemunho dos hábitos e do modo de morar de meados do século XX. Há intervenções artísticas em alguns pontos da residência, como projeções, quadros pendentes e frases afixadas nas paredes, o que torna a visita mais lúdica, viva e emocionante. Os funcionários foram superatenciosos e simpáticos, característica do povo mineiro. Sem dúvida, a Casa Kubitschek foi o meu local de visitação favorito!


Sem energia pra continuar, eu dei por finalizado o meu passeio na Pampulha. Apesar de perder outras atrações de igual importância, eu fiquei satisfeita com os locais que pude conhecer pessoalmente. Com a ajuda de um amigo, ainda consegui ir a Praça do Papa e ao Mirante das Mangabeiras, locais de onde a paisagem da capital mineira se descortina ao nosso olhar. Recomendo!


Dica de hospedagem: Collaborate Design Hostel. Albergue muito bem localizado. Tem espaço numa belíssima casa modernista com uma decoração contemporânea e descontraída.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Ciclo de palestras sobre a história de Nova Friburgo

Durante o mês de setembro, entre os dias 05 e 26, participei da organização de um ciclo de palestras sobre a história de Nova Friburgo em comemoração aos 190 anos de estabelecimento da Igreja Luterana  no município.

Cartaz de divulgação do Ciclo de Palestras ilustrado com o símbolo da IECLB e com a fachada do prédio da Igreja Luterana construído em meados do século XX.

Na verdade, o aniversário da Igreja Luterana ocorreu no dia 03 de maio, data em que chegaram os primeiros imigrantes alemães à Nova Friburgo e também ao Brasil, em 1824. Eles traziam consigo a profissão de fé luterana e, assim, deram origem à primeira igreja protestante da América Latina.

Nas comemorações do dia 03 de maio deste ano, celebramos um culto de ação de graças bilíngue com a participação das principais autoridades da IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil). Mas, devido à data simbólica, sabíamos que era necessário expandir as celebrações. Dessa forma, o partor Adélcio Kronbauer, que exerce o pastorado desde o final de 2010 em Nova Friburgo, teve a ótima ideia de realizar um ciclo de palestras.

Por eu ser historiadora, recebi o convite do Pr. Adélcio para ajudá-lo na organização. Concluímos, em primeiro lugar, que a Igreja Luterana representava um local privilegiado para um evento desse porte, já que os seus 190 anos de existência se confundiam com os 196 anos de história do município de Nova Friburgo. Portanto, a Igreja Luterana acompanhou os principais fatos do passado friburguense e ainda hoje desempenha importante papel na socidade local.

Em segundo lugar, nosso objetivo era proporcionar ao público um distanciamento do senso comum e das informações banalisadas e permitir-lhes uma aproximação da pesquisa histórica baseada em fontes primárias. Para tanto, precisaríamos contar com profissionais especializados, o que não é uma dificuldade em Nova Friburgo, um município que conta com um número expressivo de pesquisadores.

Dessa forma, entrei em contato com os especialistas mais renomados de nossa cidade para propor-lhes a atividade. Todos eles foram solíticos e aceitaram o convite prontamente! Além disso, se disponibilizaram em forcener seu trabalho gratuitamente!

Nossa primeira palestra, dia 05 de setembro, contou com a participação do Dr. Jorge Miguel Mayer que falou sobre o “Cotidiano e religiosidade na colônia de Nova Friburgo”.  O professor Jorge Miguel é historiador pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre em Studi Europei pela Università degli studi di Roma Tre e doutor em História pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é professor titular da Universidade Federal Fluminense. Seus principais estudos versam sobre a imigração, a colonização e a região rural de Nova Friburgo. Coordenador da publicação “Teia Serrana: formação histórica de Nova Friburgo”.

O Dr. Jorge Miguel Mayer durante sua palestra.

A segunda palestra, dia 12 de setembro, intitulada “A industrialização em Nova Friburgo”, foi proferida pelo Dr. João Raimundo de Araújo, historiador pela Universidade Federal Fluminense, especializado em História do Brasil pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, mestre e doutor em História pela Universidade Federal Fluminense.  Atualmente é professor titular da Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia, membro do corpo editorial da Revista História e Lutas de Classes e presidente da Comissão da Verdade de Nova Friburgo. Os seus trabalhos mais significativos tratam da industrialização e urbanização de Nova Friburgo e, também, a construção do mito da “Suíça Brasileira”. Coordenador da publicação “Teia Serrana: formação histórica de Nova Friburgo”.

O Dr. João Raimundo de Araújo durante sua palestra.

No terceiro dia de palestras, 19 de setembro, recebemos a Me. Maria Janaína Botelho Corrêa que nos presenteou com a palestra sobre “O clima de Nova Friburgo: um ator histórico”. Janaína Botelho possui graduação em Ciências Jurídicas e é especialista e mestre em História. Atualmente é docente da Universidade Cândido Mendes de Nova Friburgo onde ministra a disciplina de História do Direito. Além de sua coluna semanal no jornal A Voz da Serra sobre a história de Nova Friburgo, é muito conhecida por suas publicações. A principal delas se intitula “O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX: Práticas e Representação Social”.

A Me. Janaína Botelho durante sua palestra.

Nosso último dia de palestras, 26 de setembro, foi fechado com "chave de ouro" pelo Dr. Ricardo da Gama Rosa Costa que trouxe uma comunicação sobre o "Cotidiano e Política no entreguerras”. Ricardo é historiador pela Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia, mestre e doutor em História pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é professor adjunto e coordenador do curso de História da Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia e membro do corpo editorial da Revista História e Lutas de Classes. Possui vasta produção bibliográfica dentre artigos, capítulos e livros, os quais abordam, principalmente, a economia e a política do século XX.

O Dr. Ricardo Costa durante sua palestra.

No decorrer do mês de setembro, através dos quatro dias de palestras, recebemos um público de 98 pessoas, formado por estudantes, profissionais, aposentados, mas, acima de tudo, pessoas interessadas em saber mais sobre a história de nosso município. Por meio das palestras, o público teve a oportunidade de ter um contato mais aproximado com a história comprometida com a pesquisa e tirar suas dúvidas com especialistas. Além disso, tenho certeza que todos nós que acompanhamos as palestras, pudemos refletir sobre o passado, sobre as suas heranças que ainda se fazem presentes e o nosso papel diante dos fatos atuais. Esse é o maior legado da história: nos ajudar a refletir e participar ativamente da construção da nossa sociedade.

O Pr. Adélcio diante do público na estréia do Ciclo de Palestras.

Para mim, poder participar da organização do evento foi uma espécie de realização pessoal. O meu papel foi um trabalho de formiguinha, nada demais se comparado ao dos palestrantes. Participo da comunidade luterana há cinco anos e durante esse tempo já cantei no coral da igreja, atuei nas peças de natal, ou ajudei na recepção de visitantes. Mas essa foi a primeira vez em que pude fazer uso da profissão à qual me dedico. Beruf, em alemão, significa mais do que uma profissão, mas sim, um dom, uma missão. E, através do Ciclo de Palestras, finalmente eu me senti realizada em poder usar o meu conhecimento profissional para contribuir no papel social que a igreja desempenha.