quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Workshop Restauro de Jardins Históricos

Entre os dias 21 e 23 de abril estive em Juiz de Fora (MG) para participar do Workshop Restauro de Jardins Históricos promovido pela Fundação Museu Mariano Procópio, em colaboração com a Escola de Belas Artes/UFRJ, e com o apoio da Rede de Gestores de Jardins Históricos e da Fundação Casa de Rui Barbosa


O objetivo do workshop foi fornecer as bases necessárias para a confecção de um projeto de restauro, baseando-se nas experiências do processo de restauração do jardim da Fundação Museu Mariano Procópio e sua abertura ao público na totalidade da área verde que contempla. Os trabalhos foram coordenados pela Professora Cristina Castel-Branco* em colaboração com Raquel Carvalho**, ambas arquitetas paisagistas de origem portuguesa com longos anos de experiência na área de restauro de jardins históricos.

No primeiro dia, logo de manhã, tivemos uma aula teórica sobre as regras de restauro do patrimônio utilizadas pelo ICOMOS, os problemas mais recentes de bacias visuais em torno do patrimônio e a apresentação de casos de sucesso e insucesso. Dentre as metologias de restauro, estudamos três delas. Primeiramente, vimos os quatro princípios postulados por Carmem Añon que consistem em: 1. Respeito pelo traço existente; 2. Os contributos de outras épocas têm de ser valorizados (é preciso encontrar estratégias que possibilitem a harmonia entre as camadas de tempo); 3. Evitar as dissonâncias (o ambiente do jardim deve remeter ao tempo de sua origem); 4. Realizar um estudo aprofundado do objeto pois as soluções se encontram nele próprio. Em seguida, verificamos as metodologias do National Trust, de origem inglesa, que nos dá as bases do jardim aberto ao público. O NT postula, primeiramente, o interesse histórico-cultural do espaço de um lado, e o interesse funcional de outro. Através da análise desses dados, encontra-se uma definição de zonas homogêneas que contemplem esses dois interesses. A partir daí são traçados os objetivos estratégicos, as técnicas de restauro que serão empregadas, a confecção de um Plano Diretor para o desempenho das atividades e, por fim, a consulta de profissionais gabaritados. De uma forma descontraída, também comparamos o restaurador de jardins com um barbeiro que, se vendo diante de um cliente praticamente calvo precisa 1. proteger o que existe; 2. melhorar o que ainda há; e 3. Só então inventar. Tais princípios se baseiam nas diretrizes de Laurie Olin que enfatiza o respeito ao projeto original e defende as invenções somente no fim da intervenção.

Após a aula teórica, todos os participantes foram divididos em cinco grupos: 1. História e Usos; 2. História e Restauro; 3. Botânica; 4. Hidráulica e; 5. Composição e envolventes. Cada grupo ficaria responsável pelo levantamento de dados, dos seus respectivos objetivos, em relação ao jardim do Museu Mariano Procópio. Essa divisão foi feita pelas coordenadoras do Workshop baseado nos currículos dos participantes presentes. Eu, juntamente com mais dois historiadores e uma estudante de arquitetura, ficamos responsáveis pelo grupo 1: História e Usos. Nós quatro nos dirigimos ao jardim e fomos guiados pelo Professor Carlos Terra, da Escola de Belas Artes/UFRJ, que nos forneceu informações históricas sobre a propriedade e despertou nossa atenção para os elementos paisagísticos. Depois da visita ao jardim, já na parte da tarde, colocamos nossas observações no papel e as apresentamos para os demais grupos.

Fazendo anotações em meio a belíssima paisagem do jardim.

Professora Cristina Castel-Branco.

Grupo "História e Usos" com o professor Carlos Terra.

Preparo da apresentação.


No dia seguinte, formamos novos grupos (ambiente, patrimônio, comunidade, turismo), a fim de aplicar os processos de análise, diagnóstico e preparação do produto final, através da confecção de uma planta com uma memória descritiva das linhas mestras de um Plano Diretor de Restauro. Diferentemente do dia anterior, neste podíamos optar em qual grupo participar. Escolhi o de turismo e dividi os trabalhos com dois arquitetos e duas paisagistas. Pontuamos os problemas, levantamos os potenciais turísticos e elaboramos um projeto que priorizava a autossustentabilidade do Museu, através da cobrança de ingressos e gift shop, e a fácil acessibilidade e assimilação do ambiente pelo público. Acabamos ganhando uma menção por melhor proposta!


Por fim, no terceiro e último dia, preparamos um projeto final de restauro por meio da reunião de todas as atividades organizadas pelos grupos ao longo dos dois dias passados. Foi então que percebemos o quanto de conhecimento havíamos conseguido reunir num curto espaço de tempo. Sem dúvida, a sensibilidade das coordenadores possibilitou uma otimização do evento com a troca de experiências e saberes entre os diferentes profissionais, onde cada um pode contribuir com sua formação e receber muito conhecimento. Além de tudo o que aprendi (que está sendo de grande valia para repensar o Parque São Clemente), vivi três dias intensos repletos de experiências maravilhosas, realizando o meu antigo sonho de conhecer tanto o jardim como a casa de Mariano Procópio, e reencontrando e ganhando amigos excepcionais.

Apresentação final.

Arquitecta Paisagista formada pelo Instituto Superior de Agronomia, de Lisboa, em 1985, responsável pelo ACB Arquitetura Paisagística. Bolseira Fullbright–ITT, Mestre em Arquitectura Paisagista pela Universidade de Massachusetts em 1989. Doutorou-se em 1993 e fez a Agregação em 2006 no I.S.A., onde lecciona desde 1989 nas áreas de História de Arte de Jardins e Material Vegetal, desenvolvendo depois áreas de ensino em Ecologia da Paisagem e Restauro de Património Paisagístico e Projeto de espaços públicos. Presidiu à Secção de Arquitectura Paisagista durante dez anos e fez parte do Conselho Directivo do I.S.A. de 1993 a 1995. Em 1994 faz parte da equipe fundadora do Centro de Ecologia Aplicada no Instituto Superior de Agronomia. Actualmente é das disciplinas de História e Teoria da Arquitectura Paisagista da licenciatura, Projecto e Crítica da Paisagem e Recuperação e Gestão de Paisagens Culturais do Mestrado em Arquitectura Paisagista e dirige o Doutoramento em Arquitectura Paisagista e Ecologia Urbana (LINK), terceiro ciclo de Bolonha nesta área. Este Programa Doutoral criado em associação entre as Universidades Técnicas de Lisboa, de Coimbra e do Porto, duran desde 2009/2010. Cristina Castel-Branco leccionou como docente convidada em níveis de pós-graduação nas Universidades de Madrid, Manchester, Granada, Porto, Coimbra,,Tóquio, Ljubljana, e dirigiu o restauro do Jardim Botânico da Ajuda (1994-1997), tendo sido Directora deste jardim entre 1997 e 2002. Foi assessora chefe de Arquitectura Paisagista da Expo’98 e Directora do Projecto do Jardim Garcia de Orta. È conselheira da Unesco no Comité internacional de Paisagens Culturais e recebeu em 2013 a condecoração de Officier des Arts et des Lettres do Govverno Francês pelos trabalhos prestados ao património de jardins e paisagens culturais 

** Licenciada em Arquitectura Paisagista em 2005, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa. Trabalha em ACB Arquitetura Paisagistica desde 2005. Projectos:Restauro do Jardim de Vénus, Palácio Fronteira; Cortina arbórea, Palácio Fronteira; Casa de Fresco e Lago dos SS’s, Palácio Fronteira; Jardim Contemporâneo e Horta, Palácio Fronteira; Moradia no Estoril; Atelier ACB, Lisboa; Quinta do Poço das Romeiras, Portimão; Loteamento da Tapada das Pereiras, Portalegre; Lote 22 – L5 Penínula - Lagoa Formosa, Herdade da Comporta; Lote 2 e 4 – L8 Ilha - Lagoa Formosa, Herdade da Comporta; Parque Alqueva Design Guidelines; Jardim das Suites do Canal, Quinta das Lágrimas; Casa Grande, Quinta do Perú; Arborização e Enquadramento do Golfe, Quinta do Perú; Jardim do Lar D. Amélia, Abrantes; Vilarinhos, Loulé; Restauro do Sistema Hidráulico da Quinta das Machadas, Setúbal; Requalificação do Jardim Constantino Palha e Qualificação dos Espaços Exteriores do Bairro dos Avieiros; Parque Urbano da Cidade de Olhão; Jardim Duque da Terceira, Angra do Heroísmo; Hotel Marmoris, Vila Viçosa; Parque Urbano da Várzea, Setúbal; Arborização do Parque da Goldra, Covilhã.




Fachada lateral da casa de Mariano Procópio, atual museu.

2 comentários:

  1. "Sem dúvida, a sensibilidade das coordenadores possibilitou uma otimização do evento com a troca de experiências e saberes entre os diferentes profissionais, onde cada um pode contribuir com sua formação e receber muito conhecimento." (...) vivi três dias intensos repletos de experiências maravilhosas, realizando o meu antigo sonho de conhecer tanto o jardim como a casa de Mariano Procópio, e reencontrando e ganhando amigos excepcionais." Que reconhecimento!... É a importância e a “magia” de nosso Patrimônio Histórico: conquistar pela beleza e pela riqueza da história e, ainda, permitir a troca de conhecimentos e que, com ela, surjam novas amizades! E, quanto à proposta (ingressos e gift shop), concordo plenamente, desde que, seja acessível a todos! Abraço. (UILMARA MACHADO).

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  2. Cara Uilmara, muito obrigada pelo seu comentário! Gostei muito de suas palavras. O patrimônio histórico realmente tem essa capacidade de fascinar e engrandecer o espírito. As ideias surgidas durante o Workshop são apenas sugestões. Quanto aos ingressos, por exemplo, propomos a cobrança de uma quantia simbólica apenas dos turistas, convertida para a manutenção do espaço. Os moradores locais poderiam ter acesso gratuito mediante a apresentação de uma carteirinha ou comprovante de residência. Cabe à direção do MAPRO avaliar essas propostas e decidir se elas são realmente viáveis. Agradeço mais uma vez a sua gentileza! Abraços.

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