quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O charme da BKF

Há certas coisas nesse mundo que, muitas vezes, estão distantes de nossa realidade, mas fazem parte de nosso imaginário. O maior exemplo disso, para mim, é a cadeira BKF. Antigamente, eu nem sabia que esse era o seu nome, na verdade, não tinha informação alguma sobre a peça, mas, dentre os móveis de brinquedo da minha boneca Barbie tinha uma BKF, à qual eu chamava de cadeira borboleta. De onde eu havia conseguido essa informação, eu não faço ideia. Só sei que não foi infundada, já que a partir da Segunda Guerra Mundial, quando o direito de produção da BKF foi comprado pela empresa norte-americana Knoll, ela passou a ser chamada de Butterfly.

Acredito que, muitas pessoas como eu, já ouviram falar da BKF, conhecem-na por nome ou por fotografia, mas nunca tiveram oportunidade de ter informações mais precisas. Pensando nisso, trago para o post de hoje um pouco da história dessa cadeira, considerada uma das grandes obras do design industrial.

A BKF foi desenhada em 1938 pelos arquitetos do Grupo Astral, o catalão Antonio Bonet (1913-1989) e os argentinos Juan Kurchan (1913-1972) e Jorge Ferrari-Hardoy (1914-1977), cujas iniciais deram o nome à peça. Os três se conheceram em 1937 nos estúdios de Le Corbusier em Paris. Ter convivido e trabalhado com o “Bach” da arquitetura foi, provavelmente, a grande influência para a criação de um dos ícones da modernidade. A BKF é composta por uma estrutura curva de aço de 12 mm formada por uma espécie de dois triângulos cruzados os quais são forrados por uma peça de couro. Visualmente, ela proporciona a impressão de leveza e simplicidade ao misturar os conceitos de rusticidade e industrialização.

Fonte: arxiubak.blogspot.com.br

É claro que os artistas, apesar da criatividade, também se apropriaram da evolução estética do mobiliário para criar a BKF. Dessa forma, vemos uma grande semelhança entre a BKF e a Tripolina, cadeira em madeira de acampamento militar criada pelo inglês Joseph B. Fenby ainda no século XIX. Por sua vez, essa mesma cadeira foi inspirada pelas mobílias de viagem que precisavam ser leves, práticas e confortáveis.

Em julho de 1940, a BKF foi exposta na terceira edição do Salon de Artistas Decoradores de Buenos Aires onde conquistou dois prêmios e reconhecimento nacional e internacional. A BKF também atraiu a atenção do Curador de Design Industrial do Museum of Mordern Art de Nova York, Edgar Kaufmann jr. [sic] (ele não gostava do “júnior” em letra maiúscula). Kaufmann declarou que a BKF era um dos maiores esforços do design moderno e comprou dois exemplares por 25 dólares cada, sendo um deles reservado para compor o acervo permanente do museu.

 Exemplar original pertencente ao acervo do MOMA. Fonte: MOMA.

Em 1944, a BKF ganhou o prêmio de Aquisição do MOMA e, no ano seguinte, foi exposta no Pavillion Jeu de Pomme de Paris. De invenção e objeto de arte, a cadeira BKF se tornou popular e passou a fazer parte de muitos lares, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. Importantes personalidades adotaram a BKF como uma espécie de cadeira inspiradora! Os seus traços simples em conjunto com o aspecto grosseiro do couro permitiam ao usuário a adoção de diversas posições, proporcionando a sensação de aconchego do deitar em uma rede, elemento tão comum da cultura argentina.

Ítalo Calvino e sua BKF. Fonte: byricardomarcenaro.blogspot.com.br

Atualmente, é muitíssimo difícil conseguir um exemplar original, mas há muitas empresas de design de interiores especializadas na reprodução fiel da cadeira modernista. Inclusive, o couro tem sido substituído por diversos tipos de tecidos e estampas. Apesar de seus 76 anos, a BKF ainda é muito popular, mas, como manifestaram os autores, ela é mais do que um simples objeto funcional, é também uma obra de arte. E, hoje, ainda traz consigo uma forte carga cultural. Quem tem o privilégio de ter uma BKF decorando a sua casa, não tem apenas um cadeira, mas um dos melhores exemplos de escultura contemporânea.

As diferentes formas de se sentar numa BKF. Fonte: es.paperblog.com

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