quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Sobre janelas

Não pertenço a ninguém e pertenço a todos; 
antes de entrar, você já estava aqui; 
aqui você permanecerá depois de partir.
Denis Diderot

Guardo comigo algumas peculiaridades. Uma delas é fotografar janelas, geralmente, no sentido do interior para o exterior. Agrada-me registrar um ângulo fixo, delimitado pelas esquadrias, um ponto de vista único. 

Por detrás da vidraça admiro a paisagem que ali cabe. Concentro meu olhar nas linhas que se unem para formar o horizonte distante. Observo atentamente os recortes dos edifícios, o caminhar dos transeuntes. Meus pensamentos me transportam para as mãos construtoras desse panorama, aos homens e mulheres que deram vida a esse meio. Quantos, antes de mim, não se apaixonaram por esta mesma paisagem? 

Imediatamente, criam-se laços afetivos entre mim e o mundo além da moldura. E, ao me aproximar dos caixilhos, deparo-me com meu próprio olhar refletido no vidro, um olhar ávido por assegurar todos os detalhes, tão certo e decidido, mas também, admirado. 

A sobreposição de imagens transfigura-se em poesia: eu, que não me vejo na paisagem, me descubro parte dela. A janela, que me permite ver o que está do lado de fora, me conduz a enxergar o meu interior. Pergunto: terei eu me tornado outra em tão poucos segundos? Certamente, porque eu não somente vi, mas contemplei.

Uma das janelas do Palácio Tiradentes, Rio de Janeiro. Registro de 2010.

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