quarta-feira, 9 de julho de 2014

A Paris de Assassin's Creed Unity

Há, praticamente, um mês, a Ubisoft anunciou oficialmente o sétimo jogo da série Assassin’s Creed, famosíssima pelas batalhas que revivem grandes épocas do passado, como as Cruzadas, o Renascimento e a Revolução Americana. Dessa vez, o jogo se passará em um dos momentos mais importantes da história: a Revolução Francesa.

De acordo com o site oficial (http://assassinscreed.ubi.com/), o jogo compreenderá desde a Queda da Bastilha até a execução de Luís XVI, isto é, de 1789 a 1794, o período mais violento da Revolução: quando a pena de morte foi mantida e a perseguição aos “inimigos da revolução e da pátria”, o “Terror”, foi ferrenha. Em outras palavras, um momento perfeito para os propósitos do jogo: uma irmandade de assassinos que luta para revelar as forças das trevas que manipulam a Revolução Francesa.

É sabido que a Revolução não se passa apenas em Paris, mas também na área rural, vide os movimentos por parte dos camponeses que atacavam os castelos para destruir os registros feudais, o “Grande Medo” dos nobres proprietários. No entanto, o novo jogo da Ubisoft tem somente a Paris de fins do século XVIII como palco. Parece pouco, até sermos apresentados ao trailer.

O gráfico é de arrepiar! As ruas estreitas, os casebres e edifícios baixos, o amontoado de barracas e pessoas, tudo com uma riqueza de detalhes impressionante! Com certeza, a equipe da Ubisoft teve um grande trabalho de pesquisa para reproduzir a Paris da Revolução, principalmente, por ter restado tão poucos resquícios desse período na urbe atual. A Paris que conhecemos hoje é fruto das reformas de 1851 a 1870 comandadas pelo prefeito Haussmann, uma cidade que estava sendo construída para atender as prerrogativas do mundo moderno e pós-liberal.

A Paris da Revolução Francesa era um espaço que ainda guardava uma razoável harmonia com o ambiente natural, isto é, uma cidade que se adaptava às condições do meio preexistente, às características do terreno e ao percurso dos rios. Essa é a razão das ruas tão estreitas, das casas amontoadas, sem planejamento ou equilíbrio.

E a paisagem urbana da Paris de Assassin’s Creed Unity está tão bem desenhada, que está chamando a atenção, até mesmo, dos especialistas. Por isso, eu decidi fazer uma tradução livre de uma entrevista feita pelo jornal francês “Le Figaro” a um especialista em história de Paris e do século XVIII. Fiquei com a impressão de que a entrevista poderia ter sido um pouco mais profunda, mas é muito interessante mesmo sendo curtinha. Espero que gostem!

"O trailer de Assassin’s Creed Unity passa pelo crivo da História


ENTREVISTA – A Ubisoft revelou essa semana o Assassin’s Creed Unity, o próximo episódio da sua famosa saga de videogame, que se passará em Paris durante a Revolução. Le Figaro pediu a Jean-Yves Sarazin, diretor do departamento de mapas e plantas da BnF, para avaliar a autenticidade histórica das primeiras imagens.

Jean-Yves Sarazin, diretor do departamento de mapas e plantas da Biblioteca Nacional da França, é especialista em história de Paris e mais particularmente do século XVIII.

LE FIGARO – Você acha que o trailer de Assassin’s Creed Unity reproduz fielmente a Paris da Revolução Francesa?
Sim, ele o faz muito bem. Nele, encontramos as características das ruas parisienses: aglomeradas, não muito limpas... À época, as ruas eram o cenário da vida cotidiana e isso fica evidente aqui. Apesar de alguns pensarem de modo nostálgico, a vida em Paris não era confortável. Havia também os resíduos e imundície nas ruas, mesmo já existindo serviços de limpeza. É obviamente impossível reproduzi-las em um jogo de videogame, mas as ruas de Paris não estão tão ruins. Não havia calçadas, o que bem vemos no vídeo.

As casas são semelhantes às quais podiam ser encontradas na época?
Os telhados e as fachadas são fielmente reproduzidos, esta é uma grande obra de reconstituição. Paris já era uma cidade de pedra nessa época, já não havia muitas construções em madeira, como mostrado no trailer.
Quando estamos no segundo distrito e nas áreas centrais, nós podemos ver uma quantidade de imóveis construídos na época. Prédios de quatro a cinco andares, os andares inferiores com um pé direito alto. Vemos também que os telhados parisienses são íngremes e sem terraço, esses últimos não existiam no norte da França.
Os interiores são bastante autênticos, mas é muito fácil reproduzi-los fielmente; há uma série de pinturas datadas deste período, pelas quais os criadores puderam se basear.

A população que vemos nas ruas corresponde aos parisienses de então?
Sim, nós vemos, por exemplo, a periferia de Saint-Antoine, nas imediações da Bastilha. É especialmente ali que encontramos os trabalhadores de Paris. Embora, deve-se ter em mente, havia muita pouca segmentação social em Paris. Não era de um lado a burguesia, as classes médias de outro. Havia uma mistura social muito mais sistemática do que a Paris de hoje, apesar de que algumas áreas já eram ricas em sua maioria.
Obviamente, a Revolução é um momento especial. Estamos, então, em um momento de turbulência, que se reflete nas ruas.

Você reparou alguma incoerência nos vídeos apresentados pela Ubisoft?
O que não aparece nos trailers são os cavalos. Entretanto, havia 200 mil cavalos em Paris – que, não podemos esquecer, era muito menos vasta do que hoje. Dessa forma, mesmo que todos eles não estivessem na rua, a quantidade seria grande. O cavalo era essencial para a vida cotidiana.
Vemos também um pouco de neblina no vídeo. Na verdade, havia muito neblina na época; a visibilidade em Paris não era muito boa. Todo mundo tinha um “foyer” na casa para aquecer e preparar as refeições. A queima de madeira, inevitavelmente, emanava uma grande quantidade de fumaça. Isso, certamente, diminuiu no verão, já que os parisienses não iriam precisar de aquecimento.

Você ficou convencido com a reprodução de Paris que pode ser vista no primeiro vídeo?
Sim, é muito interessante. Eu não encontrei nenhum anacronismo, quer no sentido de antiguidade, ou na direção da modernidade. Além disso, se quisermos ter uma ideia de como era a vida na Paris do século XVIII, é só irmos à Nápoles. Quando estamos no centro histórico de lá, e ignoramos os carros e telefones celulares, vemos como é a vida da cidade no seu exterior, exatamente como foi o caso de Paris.

A entrevista original pode ser vista aqui: http://www.lefigaro.fr/histoire/culture/2014/06/13/26003-20140613ARTFIG00419-la-bande-annonce-d-assassin-s-creed-unity-passee-au-crible-de-l-histoire.php

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