Há, praticamente, um mês, a Ubisoft anunciou oficialmente o
sétimo jogo da série Assassin’s Creed, famosíssima pelas batalhas que revivem
grandes épocas do passado, como as Cruzadas, o Renascimento e a Revolução
Americana. Dessa vez, o jogo se passará em um dos momentos mais importantes da
história: a Revolução Francesa.
De acordo com o site oficial (http://assassinscreed.ubi.com/), o jogo compreenderá desde a
Queda da Bastilha até a execução de Luís XVI, isto é, de 1789 a 1794, o período
mais violento da Revolução: quando a pena de morte foi mantida e a perseguição
aos “inimigos da revolução e da pátria”, o “Terror”, foi ferrenha. Em outras
palavras, um momento perfeito para os propósitos do jogo: uma irmandade de
assassinos que luta para revelar as forças das trevas que manipulam a Revolução
Francesa.
É sabido que a Revolução não se passa apenas em Paris, mas
também na área rural, vide os movimentos por parte dos camponeses que atacavam
os castelos para destruir os registros feudais, o “Grande Medo” dos nobres proprietários.
No entanto, o novo jogo da Ubisoft tem somente a Paris de fins do século XVIII
como palco. Parece pouco, até sermos apresentados ao trailer.
O gráfico é de arrepiar! As ruas estreitas, os casebres e
edifícios baixos, o amontoado de barracas e pessoas, tudo com uma riqueza de
detalhes impressionante! Com certeza, a equipe da Ubisoft teve um grande
trabalho de pesquisa para reproduzir a Paris da Revolução, principalmente, por
ter restado tão poucos resquícios desse período na urbe atual. A Paris que
conhecemos hoje é fruto das reformas de 1851 a 1870 comandadas pelo prefeito
Haussmann, uma cidade que estava sendo construída para atender as prerrogativas
do mundo moderno e pós-liberal.
A Paris da Revolução Francesa era um espaço que ainda guardava
uma razoável harmonia com o ambiente natural, isto é, uma cidade que se
adaptava às condições do meio preexistente, às características do terreno e ao percurso
dos rios. Essa é a razão das ruas tão estreitas, das casas amontoadas, sem
planejamento ou equilíbrio.
E a paisagem urbana da Paris de Assassin’s Creed Unity está
tão bem desenhada, que está chamando a atenção, até mesmo, dos especialistas.
Por isso, eu decidi fazer uma tradução livre de uma entrevista feita pelo
jornal francês “Le Figaro” a um especialista em história de Paris e do século
XVIII. Fiquei com a impressão de que a entrevista poderia ter sido um pouco
mais profunda, mas é muito interessante mesmo sendo curtinha. Espero que
gostem!
"O trailer de Assassin’s Creed Unity passa pelo crivo da
História
ENTREVISTA – A Ubisoft revelou essa semana o Assassin’s
Creed Unity, o próximo episódio da sua famosa saga de videogame, que se passará
em Paris durante a Revolução. Le Figaro pediu a Jean-Yves Sarazin, diretor do
departamento de mapas e plantas da BnF, para avaliar a autenticidade histórica
das primeiras imagens.
Jean-Yves Sarazin, diretor do departamento de mapas e
plantas da Biblioteca Nacional da França, é especialista em história de Paris e
mais particularmente do século XVIII.
LE FIGARO – Você acha que o trailer de Assassin’s Creed
Unity reproduz fielmente a Paris da Revolução Francesa?
Sim, ele o faz muito bem. Nele, encontramos as
características das ruas parisienses: aglomeradas, não muito limpas... À época,
as ruas eram o cenário da vida cotidiana e isso fica evidente aqui. Apesar de
alguns pensarem de modo nostálgico, a vida em Paris não era confortável. Havia
também os resíduos e imundície nas ruas, mesmo já existindo serviços de
limpeza. É obviamente impossível reproduzi-las em um jogo de videogame, mas as
ruas de Paris não estão tão ruins. Não havia calçadas, o que bem vemos no
vídeo.
As casas são semelhantes às quais podiam ser encontradas na
época?
Os telhados e as fachadas são fielmente reproduzidos, esta é
uma grande obra de reconstituição. Paris já era uma cidade de pedra nessa
época, já não havia muitas construções em madeira, como mostrado no trailer.
Quando estamos no segundo distrito e nas áreas centrais, nós
podemos ver uma quantidade de imóveis construídos na época. Prédios de quatro a
cinco andares, os andares inferiores com um pé direito alto. Vemos também que os
telhados parisienses são íngremes e sem terraço, esses últimos não existiam no
norte da França.
Os interiores são bastante autênticos, mas é muito fácil
reproduzi-los fielmente; há uma série de pinturas datadas deste período, pelas
quais os criadores puderam se basear.
A população que vemos nas ruas corresponde aos parisienses
de então?
Sim, nós vemos, por exemplo, a periferia de Saint-Antoine, nas
imediações da Bastilha. É especialmente ali que encontramos os trabalhadores de
Paris. Embora, deve-se ter em mente, havia muita pouca segmentação social em
Paris. Não era de um lado a burguesia, as classes médias de outro. Havia uma
mistura social muito mais sistemática do que a Paris de hoje, apesar de que
algumas áreas já eram ricas em sua maioria.
Obviamente, a Revolução é um momento especial. Estamos,
então, em um momento de turbulência, que se reflete nas ruas.
Você reparou alguma incoerência nos vídeos apresentados
pela Ubisoft?
O que não aparece nos trailers são os cavalos. Entretanto,
havia 200 mil cavalos em Paris – que, não podemos esquecer, era muito menos
vasta do que hoje. Dessa forma, mesmo que todos eles não estivessem na rua, a
quantidade seria grande. O cavalo era essencial para a vida cotidiana.
Vemos também um pouco de neblina no vídeo. Na verdade, havia
muito neblina na época; a visibilidade em Paris não era muito boa. Todo mundo
tinha um “foyer” na casa para aquecer e preparar as refeições. A queima de
madeira, inevitavelmente, emanava uma grande quantidade de fumaça. Isso,
certamente, diminuiu no verão, já que os parisienses não iriam precisar de
aquecimento.
Você ficou convencido com a reprodução de Paris que pode ser
vista no primeiro vídeo?
Sim, é muito interessante. Eu não encontrei nenhum anacronismo,
quer no sentido de antiguidade, ou na direção da modernidade. Além disso, se
quisermos ter uma ideia de como era a vida na Paris do século XVIII, é só irmos
à Nápoles. Quando estamos no centro histórico de lá, e ignoramos os carros e
telefones celulares, vemos como é a vida da cidade no seu exterior, exatamente
como foi o caso de Paris.
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